terça-feira, 9 de outubro de 2007

Televisão em SL ou O absurdo tornado realidade virtual



Imaginem: um programa de entrevistas de televisão que acontece em directo na realidade virtual da SL. O estúdio, presença de entrevistado e entrevistador, anfiteatro para as pessoas poderem assistir ao vivo, câmaras de filmar à vista, audição (nem sempre adequada) das conversas. É real. Acontece. Quero dizer, é virtual. Acontece. Porquê apenas assim?
Questão: se há um mundo novo, virtual, onde a palavra central é «imaginação» («your world, your imagination»), por que é que a maior parte do que ali acontece não é mais do que a transposição (transferência, deslocação...) do que existe na RL para a SL? Temos assim tanta falta de imaginação?
Por que é que o que ali se constrói não se cria no exercício da resposta à questão essencial: o que seria determinada realidade/objecto/conceito/ideia se a pensássemos de novo para um contexto novo, que é a SL?
Tipo (exemplo): o que seria uma televisão e um media que poderá ter correspondência simbólica com a televisão para um contexto, lógica, e narrativas específicas que é esse mundo particular da SL? E o mesmo para tudo o resto, passo a passo, à medida humana, da deliciosa imperfeição, no exercício da experiência e do erro...
Assim se cumpria (ou pelo menos chegaríamos mais próximos) do potencial criativo, filosófico, humano, político, simbólico (pronto, económico também)... que constitui o que SL pode ser. Que raio! Por que é que não se vai mais longe? Falta de imaginação?

7 comentários:

M2life disse...

Mas em que diferiu a apresentação do seu livro em sl e rl? Em sl foi apresentado numa ilha. Nada mais, nada que não pudesse ter feito em rl.

Sugiro que na apresentação do seu próximo livro em sl faça o que critica a outros mas não põe em prática: use a imaginação! :-)

o tempo das cerejas disse...

Toda a razão. Embora, quando aconteceu, cumpriu um desejo simples e sincero de partilhar, foi apenas um encontro na praia. Ali, ao contrário da RL, não fui para um auditório ou uma loja ou uma sala de conferências fazer uma apresentação. Foi um convite muito simples de encontro a pretexto de um livro.
Talvez até escolhesse fazer do mesmo modo agora, ou talvez não, mas pensaria certamente melhor se era esse o sentido que queria dar ao momento.
E não há mal nenhum em transportar RL para dentro da SL, há mesmo casos de uma honestidade, sinceridade e vontade de partihar que me parecem muito importantes e merecem o meu maior respeito. Principalmente alguns que são de iniciativa pessoal, de pessoas que se implicam num projecto ou numa ideia.
Mas há casos e casos. E muitas vezes há mais mundo para além daquele que se constrói! Mantenho a minha opinião quanto a isso. E então quando se trata de iniciativas relacionadas com, por exemplo, televisão ou outros semelhantes, parece-me muito redutor...

M2life disse...

Provavelmente (tenho quase a certeza), a Jonsy Lilliehook, fora o episódio esporádico da apresentação de um livro, não é criadora de 'eventos' mas espectadora participante (como talvez 95% dos que entram habitualmente na SL). Eventos tanto podem ser espectáculos, aulas, exposições...

É fácil encontrar na SL (como em qualquer outro mundo virtual, como nos jogos - online ou não), situações, paisagens, 'realidades' só possíveis virtualmente. O difícil é 'transpor' algo (enquanto criador) que vem da RL para a SL e que nada tenha a ver com a RL! Eu nunca vi e nunca li sobre alguém que tenha conseguido dar esse salto (talvez com uma excepção). Vou ser mais concreto, dando alguns exemplos .

1- Educação/Formação
Vários trabalhos apontam para um maior êxito na aprendizagem em ambiente SL. Mas quais as diferenças principais entre as aulas RL e SL que contribuem para esse maior exito? Basicamente a informalidade... em vez de uma aula ser dada numa sala fechada, pode ser dada num jardim, debaixo de água, onde se queira... e a relação formador/formandos, ela própria ser mais informal. Mas o modo de dar uma boa aula, ou seja, um bom formador para dar uma boa aula em ambiente SL, já tem de o ser na RL e apenas adaptar alguns pormenores. Obviamente, que para alguns temas particulares podemos ir muito mais longe (mas para isso é necessária a colaboração de informáticos). Por exemplo, numa aula sobre citologia, estarmos todos - formadores e formandos, dentro duma representação virtual da célula; numa aula sobre genética, dentro de um cromossoma; numa aula de informática, dentro de um computador... e por aí fora.


2- Exposições
Aqui aparece a única excepção (mas será uma excepção no sentido em que o que vou dizer não existe na RL?).
Tal como no ponto anterior, todas as exposições que tenho visto em SL, reproduzem a RL. Como fazer uma exposição, de fotografia por exemplo, de forma a não ser uma mera reprodução de uma exposição de fotografia em RL? Provavelmente só 'entrando' na fotografia e ao mesmo tempo percebermos o contexto dessa mesma fotografia.
A excepção de que falei: esculturas com música em que podemos (o nosso avatar) entrar nelas e ao entrar e consoante o movimento do avatar a escultura e a música vai mudando. Não sei se existe algo assim na RL mas, caso não exista, também não me parece dificil de recriar... [basta pensar nas casas inteligentes :-)]

3- Música
O que podem os músicos (ou os DJ's) fazer em SL que não façam na RL? Uma vez mais nunca vi nada de diferente a não ser o ambiente onde actuam.

Acho que já chegam de exemplos pois para comentário o texto já vai muito longo (mas é fácil de perceber que muito mais teria para dizer).

E com tudo o que disse certamente dei a impressão que sou um daqueles que não vê nada de novo na SL relativamente à RL. Nada disso :-)

Já ando pela SL há quase um ano e não apenas como 'espectador participante'. No fundo, a minha mensagem pode resumir-se ao seguinte: É fácil criar situações em SL e que só digam respeito a SL, mas é difícil transpor situações da RL para SL e que sejam absolutamente distintas da RL.

Nota final: Só ao acabar de escrever este meu 2º comentário, reparei que no 1º, a tratei por você. É natural pois tratou-se de um comentário a um post num blogue da Cláudia Galhós (que não conheço pessoalmente). No entanto, inworld, as duas vezes que falei com a Jonsy tratei-a por tu. A informalidade da SL... :D

o tempo das cerejas disse...

ehehe
:)
pois é, eu também estranhei tratares-me por você, pensei que era pelo facto de ser uma crítica, e tivesses achado que o «você» como tom seria mais adequado. Mas eu recebo bem críticas que vêm em tratamento por tu! :)
Acho óptimo, porque a discussão é muito boa e, se a forma de expressar e a experiência (relativamente à relação com a SL é diferente no meu caso e no teu, para mal meu, não é por falta de vontade, é mesmo por falta de tempo...) acho que estamos de acordo em muita coisa (e não estamos em muita também, o que é óptimo).
Adorava discutir isto mais a fundo, porque para partilhar contigo tudo aquilo que me apetece dizer, ficava aqui uma hora a escrever...
Mas um ponto para mim fundamental: eu não acho que se deva inventar tudo de novo na SL e esquecer que existe uma RL. Acho que, precisamente, como escreveste, o grande desafio é como fazer existir em SL realidades que vêm ou não da RL mas que ali existam adequando-se ao seu contexto específico e que tirem partido do facto de ser realidade mas virtual.
Portanto, não basta transpor, é preciso considerar a especificidade do contexto que vão integrar. Isso tanto em negócios como no caso da televisão parece-me mais agressivo nessa mera transposição (e é pena) e óbvio. Porque, curiosamente, ao contrário do que seria de supor, tratando-se de um espaço construído a partir de novas tecnologias, é muito humano e tem um potencial que está para além dessa utilização básica. Parece-me. Será que estamos assim tão em desacordo? Neste ponto, acho que não. Os teus exemplos são óptimos e parecem-me formas muito interessantes, e úteis, de utilizar a SL.
Tenho pena de não ter ainda acontecido, pelo menos eu não tomei conhecimento se aconteceu, uma discussão sobre a SL em RL em Lisboa. Gostava muito de discutir mais a fundo este assunto, por exemplo contigo. Sinto falta disso.
Gostava de te dizer que, precisamente, tenho andado a reflectir muito sobre a questão do significado que poderia ter, em termos simbólicos e materiais e imateriais, um livro na SL... Porque comecei a escrever uma história só passada em SL... mas não a terminei (e não sei se a vou terminar) porque me confrontei precisamente com este dilema: para ser um livro passado e, eventualmente, editado em SL, eu tenho não posso apenas contar a história, mas preciso perceber qual a forma narrativa adequada para uma leitura que se integra num suporte diferente do papel e que imagem e formato a representaria?
Como ainda estou à procura e como o eu tenho visto em SL é muito frustrante a esse nível, e aí sou mesmo radical (são lojas de vendas de livros, em que há a reprodução da imagem do livro numa loja, onde se clica numa «notecard» onde podemos ler excertos do livros e, se estivermos interessados, encaminham-nos para uma página na net onde o podemos encomendar... ou em que li histórias passadas em SL, também a partir de «notecards» clicadas em cima de imagens de capas de livros, mas com uma estrutura, ritmo e códigos narrativos que reproduzem as lógicas do real...
Há formas de comunicação e ritmos e lógicas que são próprias da SL que são interessantes e devem ser exploradas. E isso, para mim, é pouco.
Já me antecipo à tua crítica e digo-te: sim, no meu livro, os capítulos que escrevi que se passam em SL são, nesse sentido, básicos. Mas eu escrevi-os na minha idade da inocência na SL. Agora, isso já não me basta. E ali, num livro para ler em RL, defendo o que para mim é mais interessante na relação com a SL: é pensá-la não como uma segunda vida, no sentido de resolver as frustrações de uma suposta primeira (que é uma ideia pré-concebida muito vulgar e que revela a pequenez da imaginação de muita gente também), mas como expansão da primeira, que em si mesma tem muito de literário, de sonho, e de prático também, e que, por isso, se funde e confunde, com a experiência da RL. Já vai longo... Mas é um assunto estimulante. E temos uma opção: ou entramos neste possível maravilhoso mundo novo e ficamos cegos e dizemos que é tudo maravilhoso ou queremos ir mais longe, acreditamos que pode cumprir um ideal que, na minha opinião, neste momento existe mais como potencial do que em toda a sua plena concretização. Mas estou muito aberta a que não concordes de todo comigo. Mas, peço-te um favor, discorda por via do «tu». :)

M2life disse...

Bom... afinal de contas, estamos de acordo praticamente em tudo :-))

A minha critica não foi dirigida 'ao que se pode fazer' mas ao 'dizer sobre o que poderia ser feito'.

Julgo que a 'conversa' terá de ocorrer noutro lugar (inworld por exemplo) que não no blogue, senão ficamos em diálogo :-)))

E discordando ou concordando, será o "tu". Como disse antes, só me apercebi do "voçê" ao escrever o 2º comentário (e nada teve a ver com ser critica ou não) :-)

M2life disse...

Emenda: onde escrevi "voçê" deve ler-se "você" :-)

o tempo das cerejas disse...

sim senhor! acho que era interessante organizar-se um debate, mas devia ser em ambos os mundos, in and out, acho que isso é que seria mesmo interessante, mas para sermos práticos, podia ser mesmo para começar in... :) é bom discutir contigo! vou estar fora uns dias...