terça-feira, 4 de setembro de 2007

Para que serve um Blog?

Resisti durante alguns anos. Quando me perguntavam por que não tinha eu um blog, ainda mais tendo em conta a minha actividade de escritora, respondia que para diários já me bastavam aqueles que escrevia, desde miúda, em cadernos de folhas leves e a caneta. Sempre achei que temos de salvaguardar algo de nós que não seja partilhado, tornado público, mesmo que apenas por via deste espaço quase íntimo da blogosfera. Acho que o mundo precisa que algo fique silenciado ou apenas partilhado, como segredos, a umas páginas mudas, que guardam essas confissões no espaço do não dito.
Ao terceiro romance (quarto livro) lá me convenceram. Achei que estava na hora. E uma grande amiga (obrigada Inês) fez-me o blog, que eu continuei a olhar com desconfiança.
Era o tempo que não tinha e que me ia obrigar a perder para o manter dinâmico (descobri que bastam 5 minutos por dia e isto parece que está vivo), era o receio de cair na lógica da auto-promoção (espero conseguir resistir-lhe, embora este seja um espaço pessoal, por mais informativo que possa tender a ser, é um espaço pessoal, legitimado apenas por mim própria), receava que não ficasse nada por dizer e que caísse na pretensão de que todo e qualquer pensamento tem de ser lançado ao mundo através do blog (não acontece, espero, continuo com os meus diários de papel, que contém muito de mim, que nem por sonhos passa para o blog) e receava contribuir para este mundo de ruídos, onde cada vez há menos generosidade para escutar a voz do outro e cada vez há mais disponibilidade apenas para escutar a própria voz (quanto a este ainda não sei, mas quero acreditar que não...)
Tinha ainda receio de escrever para o vazio. Mas é interessante como um blog, mesmo que discreto e querendo manter essa discrição, cria diálogos e estabelece relações que chegam por vias não directas e que são muitíssimo estimulantes. Por isso, parecendo um monólogo, ele está em diálogo sempre com alguém, esse feedback, que surge por outros meios que não por este espaço, é muito interessante. Mas continuo a pensar para que serve um blog.
Acho que deverá haver uma resposta diferente para cada pessoa. Por mim, reconciliei-me. O blog aproximou-me de pessoas que estavam distantes e de pessoas que não conhecia. E aproximou-me, de maneira diferente dos diários, de mim própria e do meu mundo. E continuo a guardar segredos que escrevo à mão em cadernos de papel que vou acumulando em baús, e que são preciosos no meu diálogo comigo própria e, nesse diálogo interior, com o mundo.
Não me preocupa que nunca sejam lidos, mesmo depois de tudo o que sou hoje desaparecer, porque a força das palavras que ali escrevo estão já lançadas ao vento e mergulhadas nos livros de areia, que é o mais precioso que temos, a respiração sincera, o pulsar do desassossego. Podem arder sem sequer ser espreitadas. Esse silêncio em que me desvendo naquelas páginas, é o que tenho de mais próximo das muitas pessoas que sou. E já é. É o valor que as coisas têm por si próprias. Tão diferente do valor que as coisas tendem a ter hoje pela aparência do valor que alguns nos querem convencer que têm.

2 comentários:

Rita Carmo disse...

Pois é, querida Cláudia... os blogs (e toda a internet) servem mesmo também para isto: para juntar pessoas! Benvinda, obrigada pelo link :) — do meu lado é mais fácil, nem preciso escrever para ir mantendo vivo o meu cantinho...!

Grande beijinho para ti!
É sempre bom re(v/l)er-te...

O Tempo das Cerejas disse...

Pois é, mas tenho visto o teu blog, não é um blog, é mesmo um espaço profissional. Tens fotos mesmo fabulosas!!!! Devias estar a fotografar bandas para todo o mundo. De uma grande admiradora!